BICO DE ABUTRE.
Degusto essa tarde
com fome autofágica,
hoje não teve sombra,
o dia tirou o brilho
da minha retina,
a chuva goteja
na alma,
tinto vinho na taça,
adiando o sofrimento,
vejo o que reflito,
sou
arquitetura esquecida,
mãos que estrangula,
boca, mandíbula
a destroçar o tempo,
mal sei,
que destroçando
o tempo,
me destroço,
disto me evitei,
agora bebo,vinho,
o ar que entra na
fresta,
acaba me tocando,
faço um traço,
um traço num dia
triste
pode ser poesia,
está ai a gema que me
nutre,
mas com bico de abutre,
vou digerindo a tarde.