meu caro amigo

Nos encontramos e é como uma despedida,

Caracóis no quintal são lembranças de uma infância perdida,

Descendo todas as ruas, manequins conversam com essa mente febria.

Frases escritas em camisetas me perseguem,

Frases que estampam a vida perdida na cidade,

E eu me transformo numa multidão,

E é uma pena que meus demônios me deixaram sozinho.

A esperança é uma quimera sobre minhas vísceras,

Minha vida de borboleta suspira,

A esperança é uma quimera sobre minhas vísceras,

Meus sonhos de beija-flor apazíguam-me,

A esperança é uma quimera sobre minhas vísceras,

Debruço-me sobre meus abismos e voo livre sobre minha infinita tristeza,

Como uma borboleta que passou pelo seu dia.

Escravos da diversão,

A solidão vai preencher nossas vidas,

Somos fumaça nesses amores de cinzas,

Eu sou céu azul numa manhã em que o mundo me abraça,

Enquanto eu perco meu coração,

O mundo me abraça.

Eu não conheço a miséria,

Essas mentes canibais vão comer minha inocência,

Todo mundo está triste, todo mundo está feliz,

Meu sorriso agridoce não te fere,

Estamos acostumados á esses dias,

Mas uma criança em mim ainda chora,

Uma criança em mim ainda pensa em me salvar,

Uma criança em mim ainda se perde em meio aos desvarios dessa cidade,

E se vai... Junto da multidão.

Eu sinto o silêncio,

Doce canto de uma vida decadente,

Doce olhar para a passividade das coisas,

Amargo beijo que me conduz ao sublime viver.

Eu sinto a minha ausência,

Dessas ruas em degredo,

A tristeza é um segredo,

E o silêncio é belo.

Estranho poeta se desvanece em sentimentos inexistentes,

Reais como uma primavera sem vida,

Em sua casa decrépita, a relva cresce por entre os azulejos,

Há caracóis no quintal...

Frases escritas em camisetas me perseguem,

Demônios devoram o plano material,

E meu caro amigo, eu estou velho,

E você vai me deixar morrer,

Enterrado por manequins.

mary constance
Enviado por mary constance em 11/02/2021
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