Caminhante

        (Líricas de um Evangelho Insano)




Venho de caminhar léguas e léguas
e guardar na constância da poeira
as areias brancas do meu pão
Venho de recobrar da espuma do tempo
meus olhos de nuvens
de me perguntar sempre
por que estes séculos em mim
conduzem-me sempre para o mais
recondito
e as noites são como uma látega
mancha de cores
que me tinge a boca da alma
na habitação da carne
sob o sabor desses véus
da vida e da morte
que me caminham
e que tenho sempre os pés descalçados
nesta morada invisível do meu sentir
Venho e sempre vago como sou
caminhante por dentro
translúcidos ossos
ao vento