FÁTUO

De soslaio te vejo,

sombra a esgueira-se

na turbidez do periférico olhar.

Eu quase te encontrei,

sonâmbulo,

tateando-me em escuridões

nos corredores do mal-dormir.

Quisera acordar,

- será!? -

para perceber a silhueta

que se desmanchava em ausências,

como pó a escorrer pelas mãos

calejadas de tantas fugas.

Ou devesse entregar-me ao desfalecer.

Talvez o sono me revelasse

em proclamas oníricos,

as aparições que meus olhos

não testemunharam

nas vigilantes noites de angústia.

A dúvida me sequestrava a lucidez

e negociava resgates em tíbias esperanças.

Onde estarás?

Envolta no véu de uma partida

no vão da despedida, sem volta,

som inerte, sem emissão,

sem propósito, sem missão,

na prosaica de uma prosódia,

na falta de teu canto original,

vou te cantando em paródia.

Desejando algo que valha

mais do que uma ilusão,

nas insônias impostas

pelo esperar sem fim.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 14/02/2021
Código do texto: T7184593
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