CORAÇÃO-PALHAÇO

Ri, palhaço, em meio aos dissabores

Que te afligem a alma desassossegada.

À platéia provoca estrondosa gargalhada

E, no calor das palmas, esquece as dores.

A turba feliz que a te ver aparece

Também, como tu, sofre e lacrimeja

Mas espera tua graça pr’a ver se esquece

A dor que, imensa, em cada um lateja.

Teu riso, joguete de falso destino,

Em todos provoca delírio fremente

Que incrusta na alma febril dessa gente

O dom de olvidar o seu desatino.

A ninguém comove a mísera agonia

Que tua vida assola, importa a alegria

Que a turba te exige no picadeiro.

Espetáculo à parte, também vida afora,

Te exijo que sejas, como és agora,

Assim, coração, palhaço primeiro.

mreno
Enviado por mreno em 20/03/2005
Código do texto: T7185