PARTO

Contorce-se a alma em dor terrível,

Por todos os poros um suor gelado,

Ouvindo-se apenas seu ronco entrecortado,

Como um gemido feroz e horrível.

Rasgam-se-lhe as entranhas, em pesadelo enorme,

E o sangue borbulhante e em jorros violentos

Lateja-lhe na fronte, pálida e disforme,

Quase que explodindo em fatal momento.

Repente, gritos sacodem o silêncio rouco

E alternam-se às vozes e seguindo-lhe, louco,

Mais outro gemido, prolongado, freme.

Punhos cerrados e um derradeiro esforço:

Empalpado em sangue a percorrer-lhe o dorso,

Nasce o poema e a alma, estafada, treme.

mreno
Enviado por mreno em 20/03/2005
Código do texto: T7186