Estados (no sentido de estar)

Há tempos onde me instalo na fantasia,

É quando meu imaginário parece mais vasto que o mundo.

Há outros tempos onde os dois pés estão fincados na realidade

Que é quando ela me parece mais aprazível que qualquer faísca ilusória.

Em um me sinto criança-eterna-criança que se utiliza de sua inventividade para sobreviver.

Noutro me sinto adulta-chata-adulta que nada consegue ver além do que está posto.

Daí sou levada a pensar que é preciso crescer sem crescer muito.

Crescer só o bastante

Para não perder de todo a fantasia e nem viver alheia a realidade.

Ninguém carece de crescer muito, porque quem cresce muito fica chato.

E eu não suportaria me tornar completamente chata.

Quando vivo um hiato na escrita é quando estou instalada na realidade e aí abro um livro qualquer da Clarice e leio qualquer parte.

Quase sempre sou devolvida ao meu estado de poesia.

As vezes inspira para escrever

As vezes inspira para viver

E é o suficiente.

Quando estou travada na fantasia, eu leio Adélia.

A danada é mestra em fazer poesia da realidade-dura-poética-dura-realidade.

As vezes inspira para escrever

As vezes inspira para viver

Em ambas as vezes inspira a ser simples.

E é o suficiente.

Quando não sei onde estou e nem ao menos onde instalada estou, nem ler eu leio.

Escrever não escrevo.

Tudo é pouco atrativo.

Me deleito no tempo, recurso único e último.

Ele passa.

Eu passo.

Mariany Mendes
Enviado por Mariany Mendes em 17/02/2021
Reeditado em 17/02/2021
Código do texto: T7186405
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.