Quase te escrevi uma carta

Quase te escrevi uma carta, daquelas bem compridas e cheias de palavras com afeto. Antes de continuar, procurar lápis e papel, me perguntei se alguém ainda recebe cartas, sem ser boletos, é claro!

Acredito que não. Por isso mesmo resolvi usar velhos conhecidos, lápis e papel, de modo a te contar como tem se passado meus dias. Poderia mandar um email, seria mais rápido até, mas é que não teria a delicadeza da caligrafia passeando na folha em branco. Parece bobo, eu sei, talvez você nem leia, um risco que corro pensando em cada letrinha desenhada no papel de carta repleto de fofices bem cafonas que encontrei no fundo da minha gaveta, que está um caos.

Engraçado, tentei elaborar algo bem bonito, com plumas, gliter, e confetes, contudo não é carnaval, a propósito, que saudade do que não vivemos esse ano, só consigo mensurar lágrimas e alguns sorrisos.

Percebo que não tenho o que dizer, vivo fantasiando, sinto o julgamento alheio, aliado ao medo de não ser amada, as horas que não passam, talvez por isso, minha cabeça anda barulhenta, como uma escola de samba no recuo da sapucaí, por sinal, só ando sambando no quintal.

Divagando nos pensamentos, observo a chuva aparecer sorrateiramente, molhando todos os planos que tinha para hoje, lamentei igual quando o carnaval foi cancelado, coloquei a alegria de lado, é difícil desejar algo e não poder realizar, quando a vida bate na nossa cara diariamente, apenas fingimos não sentir.

Você prefere sentir ou fingir? Não importa, um dia sentirá falta dos instantes de felicidade, das miudezas da vida passando despercebida, dos almoços no quintal aos sábados, das cartas que não escreveu, dos amores não correspondidos por medo de estar em perigo, dos raios de sol brilhando em meio às nuvens agraciadas com um arco-íris, e de mim que te abraço apertado.

Por esse motivo, me agarro às insignificâncias da vida, ou melhor, as grandezas do mundo unicamente vistas em dias como hoje, quando penso em te escrever no silêncio da manhã de domingo, acompanhada dos passarinhos cantando ao longe.

Aproveito o agora, vou tomar um café quente tranquilamente enquanto penso se te escreverei uma carta com o cheiro dessa manhã, envolta nas sutilezas da vida, em que cada segundo conta uma história registrada exclusivamente na minha falha memória.

Na hipótese de você desejar saber, quase te escrevi uma carta.

Jéssica Gualberto
Enviado por Jéssica Gualberto em 01/03/2021
Código do texto: T7195784
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