SÁBIAS IGNORÂNCIAS

Já procurei respostas

nos fumos da noite,

agasalhado com o manto

de tantas madrugadas insones.

Pensei encontrá-las na bruma densa

que algemava meus passos,

aprisionava minha alma

no calabouço

da desesperança.

Eu não via nada mais

do que o fio da cegueira

que tecia devagar

cada ponto de ilusão.

Ela estava lá

com a boca escancarada,

famélica,

a devorar-me em dúvidas,

a aliciar meus medos.

Então eu percebi,

num rasgo de vazio

um não-dizer,

refratário,

com o incorrigivel desejo de resgate.

E foi aí, do nada absoluto,

que soçobraram as interrogações

e no naufrágio de tudo aquilo

que um dia quis saber,

eu emergi com a sensação

de que tudo sempre foi

respondido,

mas sabiamente não revelado,

apenas cultuado na liturgia

de viver

a terapêutica ignorância

de cada dia.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 05/03/2021
Código do texto: T7199312
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