Na noite

Na noite

Os gatos são fatos

Faróis apontam a falência

Falácias gritam cruas

Turbulências açoitam o poeta

Poderia morrer de tédio

Mas tudo passa

Mais uma vez o gato escapa

Pedras e escopetas

Um rosto resta no chão

Na mais autêntica florescência

Da máquina de filmar

Nada mais é justo

Cheiro ocre de urina barata

Quanto vale mesmo um ser humano?

Menos que um chip

Mais que uma vírgula

Tanto quanto o ocaso

Por acaso um dia

Talvez vá se encontrar

Entre os restos mortais do poeta

Um pacote e nele envolto em breu

O poema azulado

Em versos de rútilos sonhos

Na última sílaba o gesto

Escrito em fino marfim

Chorem, mas não por mim!

Paulo Luna
Enviado por Paulo Luna em 09/03/2021
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