Kairós
Há tempo de chorar
De plantar e colher
Fermentar o pão e repartir abraços
Tempo de drogas sintéticas e tempo de ópio endógeno
Tempo de fermentar a uva e tempo de beber o mosto
E tempo de ver que o vinho naquela mesa, aquela que não foi feita pra você, tinha gosto de vinagre
Há tempos de abundância e escassez
Tempos de fraqueza e de robustez
E há um tempo pra sentar naquela mesa, aquela feita pra você, com uma taça cheia
E quando ela chegar até vc, transbordando, beba-a em grandes goles de prazer
Há um tempo pra calar
E de alçar em cantigas no ar
Tempo de deitar a semente e tempo colher o fruto maduro
Tempo de minguar e tempo de sobejar
E há tempo de beijar bocas, todas, e nunca se fartar
E tem o tempo para o celibato, quieto e calado num canto a rezar
Há tempo pra rito na floresta
De cantar para as musas e fazer serestas
E de frutas num alquidar
De girar e bater o tambor
E gargalhar na encruzilhada
E de declarar que tudo vai virar nada
Se só um dos lados da banca está a se fartar
Há tempo de falar e tempo de berrar, espernear e dar socos no ar
E há também um tempo para o revide
De arrancar as tripas de golpistas
E cozinha-las no sangue dos facistas
Tempo, tempo, senhor da paciência e do passar
Passe-nos daqui pra adiante
Papasse-nos daqui pra acolá