Kairós

Há tempo de chorar

De plantar e colher

Fermentar o pão e repartir abraços

Tempo de drogas sintéticas e tempo de ópio endógeno

Tempo de fermentar a uva e tempo de beber o mosto

E tempo de ver que o vinho naquela mesa, aquela que não foi feita pra você, tinha gosto de vinagre

Há tempos de abundância e escassez

Tempos de fraqueza e de robustez

E há um tempo pra sentar naquela mesa, aquela feita pra você, com uma taça cheia

E quando ela chegar até vc, transbordando, beba-a em grandes goles de prazer

Há um tempo pra calar

E de alçar em cantigas no ar

Tempo de deitar a semente e tempo colher o fruto maduro

Tempo de minguar e tempo de sobejar

E há tempo de beijar bocas, todas, e nunca se fartar

E tem o tempo para o celibato, quieto e calado num canto a rezar

Há tempo pra rito na floresta

De cantar para as musas e fazer serestas

E de frutas num alquidar

De girar e bater o tambor

E gargalhar na encruzilhada

E de declarar que tudo vai virar nada

Se só um dos lados da banca está a se fartar

Há tempo de falar e tempo de berrar, espernear e dar socos no ar

E há também um tempo para o revide

De arrancar as tripas de golpistas

E cozinha-las no sangue dos facistas

Tempo, tempo, senhor da paciência e do passar

Passe-nos daqui pra adiante

Papasse-nos daqui pra acolá

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 11/03/2021
Reeditado em 01/05/2022
Código do texto: T7203919
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