APARIÇÃO

A lua se afligia. Serafins em prantos

sonhando, com arco nos dedos, no acalanto

das flores vaporosas e agitadas violas

de soluços a escorrer no azul das corolas.

— Foi o dia ditoso do seu beijo primevo.

Meu sonho amante a martirizar meu enlevo

sabiamente inebriou-se no aroma de queixas

que mesmo sem remorso e sem decepção deixa

a escolha dum Sonho do peito que o colheu.

Vagueei os olhos no asfalto que cedeu

quando com o sol nos cabelos, na avenida

e à noite, você me apareceu garrida

e pensei que vi a fada no chapéu feliz

que passou em meus belos sonos infantis,

sempre deixando co’as suas mãos mal fechadas

nevar buquês brancos de estrelas perfumadas.

* * *

— Stéphane Mallarmé em “Les Poètes Maudits” de Verlaine, 1884.

tradução/adaptação: Ismael Marck, 2021.

Nota do tradutor: Rimas emparelhadas e versos dodecassílabos mantidos conforme poema original “Apparition”