Março/2015

Vício

Não é só cabeça, mas sim coração;

em todos os meus poros tu habitas;

paixão perene que alto grita

entre meu além-céu e meu aquém-chão.

Um vício que me faz bem;

remédio que me traz cura;

razão das minhas loucuras;

pros meus olhos és festejo;

pros meus desejos és amém.

És flama que me consome,

qual o sol que me traz calor;

só é fácil versar o amor

se pronunciado o teu nome.

Beto Acioli

15/03/2015

Das carências

Andarilhei pelas ruas,

visitei lugares que frequentei no passado

e, lá, não encontrei ninguém...

No frio daquele dia

bebi uma quente nostalgia,

desconheci minhas esquinas,

não me embriaguei...

Notívago, caminhei sem rumo,

fui até o fundo da minha solidão.

Daí percebi que o (ainda vivo) passado era bem ali

e o relógio me dizia

que eu estava em outro tempo...

E no final, sem pesares,

rompi imensuráveis muralhas,

sozinho, me encontrei...

O que me fizera sentir num poço de navalhas

e me transformara em metades

eram apenas carências de mim.

Beto Acioli

15/03/2015

Tiro no pé

Ronca, com zanga, o férreo mangangá

tossindo óleo diesel

e com seus dentes afiados e famintos

furioso, o verde devora...

Choram, aos tombos, mangueiras, coqueiros,

jaqueiras, jambeiros, macaibeiras e ingás...

Sem casas, anus, bem-te-vis, sabiás;

teiús, serpentes, calangos e preás

fogem às pressas, vão embora...

E o homem, em seu ventre pétreo,

pare a cidade

e descortina um abismo

para depois reclamar

o dióxido em seus pulmões,

e sua alma desseca

no sol que escalda seu corpo

sobre um amontoado de cifras e ambições....

Beto Acioli

20/03/2015