Apatia
Não venha aqui, pessoa do mundo...
não se atreva a entrar em meu espaço
usando os mesmos chavões cansativos
Só venha, de tiver algo a oferecer
que não seja tão vulgar... algo quase impossível
neste mundo previsível...
No momento, não estou aceitando nada
nem mesmo de mão beijada...
Não quero o Sol, as estrelas, o Luar,
as belezas todas da intocável natureza...
tudo que ficava tão bem no poema
nada disso não me satisfaz...não mais.
Nem o bem, nem o mal...nem mesmo a inocência
do primeiro verso, dos primeiros tempos.
Nada mais me seduz...desde que um imenso cansaço
entorpeceu meus sentidos...
Desde que toda essa mecanicidade
toda essa previsível realidade instalou-se
tirando todo sabor do alimento
todo aroma das flores e frutos
toda maciez do tecido e da pele
todo encantamento dos sons mais puros...
E agora, nem mesmo se quiseres vir ao meu encontro
desvelando todos os segredos mágicos do universo
eu te direi: não venhas....!
nada terás a me oferecer que eu já não tenha guardado
inutilmente, em mim...