BORBOLETAS BRANCAS (10): Bezerro de ouro*

Eu não sabia,

Quando me peguei, já fiz.

Foi mais forte que eu.

E nem dei ordem pra que eu fizesse.

Saiu.

Criou vida. Como um tumor que precisava ser expelido.

Foi terrível!

Todos estavam pedindo.

Todos estavam perdidos.

Todos estavam.

Precisei de algo deles,

Da vida deles,

Do que eles tinham de precioso.

Sem isso nunca sairia nada.

Coloquei no forno,

(Ah! Dor de cabeça quente!)

Antes quis mexer,

Quis trocar um pedaço, um formato.

Mas o fogo (ironicamente), queimava.

Ardia.

Eu que pensei que finalmente derreteria tudo.

Destruiria tudo.

Não. Ficou firme.

Sólido.

E saiu.

Já tinha tomado forma.

A forma que quis que tomasse.

A forma que quiseram que tomasse,

Quase um cordeiro; porém, bezerro.

Quase de carne, porém, de ouro.

Falível, falso, brilhante como o sol.

Ainda estava quente.

Confesso,

Não tive culpa.

Eles estavam ali.

Todos estavam pedindo.

Todos estavam perdidos.

Todos estavam, Moisés, com saudade de ti.

Então,

Sem saber o que fazer,

Inventei um ídolo chamado,

MEUS TEXTOS.

E quer saber?

Eu adorei.

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Nota: A poesia foi inspirada no texto de Êxodo 32; 22-24, no episódio do bezerro de ouro e, principalmente, pela desculpa de Arão, sumo sacerdote.

Leandro Severo da Silva
Enviado por Leandro Severo da Silva em 17/03/2021
Reeditado em 17/03/2021
Código do texto: T7208978
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