Açougue
O amor é uma pedra no peito,
uma pisadeira.
O amor é uma peça de carne
inteira,
cara, e morta.
O amor na geladeira, conserva,
ao relento, apodrece.
E as moscas, e posteriormente
os vermes,
comem seu amor
e o putrefazem.
E depois, como todas as coisas,
vira pó.
E é esse pó que outro inspira
e se apaixona.
Amar é cheirar a cocaína
da putrefação
do que já fizeram
com nosso coração.
E como toda droga,
(a pedra, o pó, a carne, a dor)
amar vicia,
e mata.
Morro então ao relento,
descongelando, ainda dentro
da geladeira quebrada do seu
balcão de açougueiro.
Que com a faca da ausência,
me picota,
peça ou pedaço, a granel
ou quilo;
e me mói, e me vende
na boca de fumo, protegida pelos dentes cerrados do seu sorriso
(in)dependente químico