Açougue

O amor é uma pedra no peito,

uma pisadeira.

O amor é uma peça de carne

inteira,

cara, e morta.

O amor na geladeira, conserva,

ao relento, apodrece.

E as moscas, e posteriormente

os vermes,

comem seu amor

e o putrefazem.

E depois, como todas as coisas,

vira pó.

E é esse pó que outro inspira

e se apaixona.

Amar é cheirar a cocaína

da putrefação

do que já fizeram

com nosso coração.

E como toda droga,

(a pedra, o pó, a carne, a dor)

amar vicia,

e mata.

Morro então ao relento,

descongelando, ainda dentro

da geladeira quebrada do seu

balcão de açougueiro.

Que com a faca da ausência,

me picota,

peça ou pedaço, a granel

ou quilo;

e me mói, e me vende

na boca de fumo, protegida pelos dentes cerrados do seu sorriso

(in)dependente químico

Gustavo Alvaro
Enviado por Gustavo Alvaro em 17/03/2021
Código do texto: T7209375
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