Minha querida caneta.

Minha querida caneta.

Não sei que me deu quando resolvi abrir a gaveta.

No fundo, um pouco esquecida repousava uma caneta.

Coitada, com o tempo foi substituída por esferográficas.

Linda, elegante e artística, sorria e pedia para ser usada.

Tinha sede e ao tinteiro a levei a beber.

Agradecida acariciou a minha mão e disse ao meu ouvido:

Vamos passear no teu esquecido caderno.

Convite aceite. Há tanto tempo que nele não escrevia.

Na folha em branco, letras lindas surgiram.

As palavras sucederam-se num ritmo em crescendo,

As linhas ganharam vida enquanto o aparo bailava.

E a caneta escrevia sobre o sol que nascia,

Sobre as folhas que esvoaçavam, sobre o riacho que corria.

Descrevia o riso das crianças, o trinar dos pássaros,

O zumbido das abelhas e o murmurar das searas.

Escreveu sobre os amantes que se beijavam,

Sobre as carícias que trocavam e os orgasmos que gritavam.

Segredou-me as mensagens que o vento lhe contou…

Pediu-me segredo sobre as confissões dos amantes,

Sobre traquinices das crianças e sobre todos os beijos roubados.

Relatou-me viagens fantásticas, paisagens exuberantes e…

Juntas cavalgámos as ondas, abrimos asas e voámos.

Ensinou-me a olhar as estrelas no seu leito negro.

E esse negro nada era mais do que um manto de diamantes.

Minha querida caneta como te pude esquecer?

Prometo-te… a partir de hoje não mais deixaremos de passear

E no nosso caderno, juntas continuaremos a sonhar.

Fortunata Fialho
Enviado por Fortunata Fialho em 21/03/2021
Código do texto: T7212684
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.