O homem estava nu

O homem estava nu

Mas nem sabia disso

Achava que vestia

Um terno de ouro negro

Uma túnica de falésias

Um marfim uma gravata

Um chapéu de alta moda

Pequenos enfeites na lapela

Dizia que ia ao cais

Esperar um navio

Que chegava trazendo

Uma encomenda de um rei

Lhe pedindo para ser

Seu conselheiro secreto

No cais

Não tinha navio

Não tinha notícia

Não tinha mensageiro

Com notícias do rei

Nem cais havia

Então no meio da tarde

Mais ou menos por volta

Das quatro horas

O homem sobressaltou

Ao ver suas vestes de acrílico

Tomarem rumos milimétricos

Espatifados na tarde

Então o home gemeu

Num segundo

Se encolheu

Todos o olhavam

E ele nu

Só e nu

Quis se atirar no mar

O guarda não deixou

Quis correr

Na frente dos carros

A multidão impediu

E foi então que ele descobriu

Que não tinha como ocultar

Seu coração que sangrava

Paulo Luna
Enviado por Paulo Luna em 01/04/2021
Código do texto: T7221627
Classificação de conteúdo: seguro