Hoje não me deito

Hoje não me deito.

Hoje fiquei a saber que amanhã, quando acordar, serei mais velha.

Só podem estar a brincar comigo e roubar o meu sono.

Será que o tempo ensandeceu?

Querem lá ver que o meu sono de beleza endoideceu!

Quando o sol nascer terei mais um ano.

Impossível um ano são 365 dias, não umas simples horitas.

Por tudo isto tomei uma decisão, hoje não me deito.

Fico de vigia ao passar do tempo não vá ele cumprir a ameaça.

Montarei guarda apertada, bem sentada, na cadeira de baloiço.

De olhos nos ponteiros do relógio não vou permitir que avance,

Nem se atreva a acelerar um segundo que seja.

Se não se comportar retiro-lhe as pilhas, prendo-lhe os ponteiros,

Atraso-o… evito que avance… troco-lhe as voltas.

Hoje, definitivamente, não me deito.

Se o tempo teimar em por aqui passar, tranco a porta,

Fecho-a a sete chaves e o maior tronco lhe vai servir de tranca.

Reforço as janelas, nem um buraquinho dos estores ficará aberto.

Acordar com mais um ano não vai acontecer,

Só irei dormir, daqui a 24 horas, depois do tempo desistir.

Um ano mais velha! Nem pensem.

Acreditem, hoje não adormeço… nem sequer me deito.

Fortunata Fialho
Enviado por Fortunata Fialho em 10/04/2021
Código do texto: T7228847
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.