Um ponto pardo numa areia parda...

Euna Britto de Oliveira

Esgoto-me em impotências...

Se não consigo acrescentar nem um minuto, nem um segundo

À extensão dos meus dias,

O que penso que posso,

Não sou eu que posso,

Mas Ele, que pode em mim!

O amor que transcende o desejo de posse é elevadíssimo!

Chegarei a experimentá-lo?

Com um estalar de dedos,

Deus me chama

E eu olho para os lados, para cima,

Para dentro de mim mesma, que é onde Ele mora ou deseja morar,

Se eu deixar... – Ele dá livre-arbítrio e não força nada.

Ele mesmo não precisa olhar para cima

E talvez nem possa,

Está no alto mais alto!

Acima d´Ele,

Não há nada, nada existe.

Aliás, há Ele, infinito,

Eternamente...

Ele olha e me vê!

Como um ponto pardo numa areia parda

Perdida na praia...

Perto de mim, uma colherinha de prata que empreteceu por desuso...

A boca fala da abundância do coração.

A banda de música da PM toca uma marcha de Chico Buarque – A Banda.

Desesperadamente amarelo,

O ipê espera que lhe tirem fotos.

Estou sem a câmera,

Memorizo-o.

A menininha de gesso da decoração da piscina,

Que trazia uvas nas mãos,

Envelheceu sem deixar de ser menina.

Descascadinha, dá vontade de restaurá-la...

Se eu, que sou eu, sinto essa vontade

Em relação a essa escultura,

Quem ousa dizer que Deus não quer restaurar suas criaturas?...

Euna Britto de Oliveira
Enviado por Euna Britto de Oliveira em 04/11/2007
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