JARDINS

Sobre as lápides frias dos sepultos

eclode a aurora ampla, lusco-fusco,

no véu mármore furta-cor de chumbo

— e prata e preto e púrpura múltiplo.

Os fantasmas papeiam no silêncio raro

do orvalho fluido, solto na cruz pregada

no limite mais alto do granito estrelado

que empacota o corpo, mas não a alma.

Dentro da atemporalidade do poema,

tudo já é diferente na maré suspensa

da manhã invadida por ocres e beges,

alecrins e amarelos, jade e azul celeste.

E o vento traz um aroma quase silvestre:

o almíscar da terra molhada dos vermes.