A CORDA
Naquele verão me senti completa
Todos meus pedaços colados
E o universo enfim alinhado.
Depois de anos em solidão
Uma acalento em meu peito
Me deu a liberdade
Pra ser eu e minha paixão.
Andei tanto que pude,
Fissurada, decidi: - Vou correr!
Se pudesse voar, criaria asas
Pois tanta pressa tinha de viver
Sorri cedo demais,
Corri até a exaustão
Me vi andando na lama,
Cavoquei tentando sair
Sem perceber que um buraco ia se abrir
Ainda via as flores
Mas não conseguia alcançá-las
Com os padrões que tinha,
Com os parâmetros que carregava,
O máximo que me arriscava
Era gritar pra ver se alguém me ajudava
Muitos passaram, e ao invés de prontificar
Jogavam terra em meu rosto
Pra terminar de me afundar
Alguns até jogaram uma corda
Pra que eu pudesse me matar.
Desesperada, cansada, desenganada
Desmaiava e acordava
Hora ria, hora chorava, as vezes até rezava
Pedindo aos céus clemência
Pra me livrar do sofrimento
Afinal que fiz eu
Além de ser tão intensa?
Até que contra o sol vi teu vulto
E já nem sabia se delirava, se sonhava ou admirava
Tua luz era tão forte que quase me cegava
Era mais fácil pra ti fugir,
Me esquecer, fingir que não me viu
Mas não correu, escolheu ficar
Atordoada estava: porque continuava a me olhar?
Então pegou a corda e atirou ela pra mim
Pensei acabe logo o serviço e me dê logo um fim
Começou a afrouxar, será que era pra me enrolar?
Está dando nós, certamente pra me enforcar
Quando mais soltava, mais perplexa ficava
Não precisava ser assim,
Eu não te fiz nada
Nunca antes tinha te visto,
Porque ao invés de esculachar
Você queria me ajudar?
Porque estendeu tua mão
Fazendo a corda de escada
Só pra me salvar?
Família, amores, amigos
Ninguém se pôs disponível
A importância que me têm
Foi proporcional ao desdém
Tu, estranho ao meu olhar
Foi reconhecido de primeira
Pela minh'alma enferma
Nosso reencontro tava marcado
Pra tu vir me resgatar
A diferença com que me trata
É o modo como me vê,
É o que me faz te amar.
E se eu puder te carregar,
Te boto em minhas asas
E te levo comigo voar.
19/04/21