O TREM
O trem está chegando
E eu estou na trilha
A morte parece tão bela
E o desejo vem tentar
A alma pura demais
Nessas pedras, nesse vazio
O certo e o errado
Pulsam em meu coração
Ao som do trem
Que está se aproximando
Enquanto não vejo alguém
Capaz de me soltar
Estou presa, mãos atadas
Nos lábios o sangue, o silêncio
No corpo, o suor e o temor
Na mente, a lembrança do amor
Que jamais deveria existir
Foi errado, pecado, condenação
Enquanto o trem vem
Em minha direção
Já sinto o corpo despedaçado
Mente e coração lado a lado
Pedaço por pedaço no chão
Despedaçado como minha alma
Ainda ouço um grito
Das profundezas do inferno
Ele diz: Pobre alma!
Sinta o gosto de seu sangue derramar
Por totalmente acreditar
Que existe amor eterno
Agora é apenas um pedaço
De seu corpo a fenecer
Como a dor que me faz viver
E que trouxe a morte como brinde
E o sangue servido como vinho
Numa taça de cristal
O trem está chegando
E ironia, ainda vejo a luz
Deitada ainda vejo o céu
E o amor, ainda vive em meu ser
Com ele irei morrer
E para que lado irá deixar
Quando o trem passar
E despedaçar parte a parte a ilusão
Deixando intacta a sensação
De que a morte é vida
Por um amor que não vale viver
Por sentir que devo morrer
O trem passou, desviou o curso
E me deixou presa e viva
Com medo e amor no coração
A lembrança inteira na mente
Os lábios querendo gritar
Quem nem a morte poderia salvar
Uma alma perdida de amor
Por não haver pecado maior
Do que sentir vida e morte conviverem
Juntos num mesmo coração
Lutando para conquistar
O que o tempo já carregou
Tenho ainda o gosto do fel
E, agora, ouço o trem partir
E a chuva começa a cair
Levando as pedras no chão
Fazendo o vento soltar
As cordas que me prendiam
Na verdade, não existiam
E o trem? Jamais existiu
A trilha vivia em meu quarto
Estava presa na lembrança
E a cama que me segurava
O sonho é que eu lhe amava
A morte não passou de desejo
E o passado, passou contigo
Amor, ódio e amigo?
Estou presa em meu mundo
Num eterno mal profundo
De amar e trilhar o amor
No descompasso pulsante da dor
De saber que perdi o que ganhei
Saber que não vivi o que amei
E que o trem que não quis passar
Trazia o amor, capaz de amar
E nele estava você, sempre a guiar!