KALUNGA
Sou eu mais um filho do obscuro,
que pisa torto no lado esquerdo da rua.
Filho preto que a África não viu,
chorando aos pés de um milagre mestiço.
O mar tragou o mistério da travessia,
engolido pela mãe de ventre rasgado,
que chorou o mal estampado
nas velas estrangeiras
de tumbeiros amaldiçoados.
Nem fé levei, muito menos santo feito.
Foi destino curvo de mal encomendado.
Mas terra fendida,
pela água e sal atravessada,
é chão de pátria sem nome,
de santos de olhos cobertos
e liberdade no peito, engasgado.