KALUNGA

Sou eu mais um filho do obscuro,

que pisa torto no lado esquerdo da rua.

Filho preto que a África não viu,

chorando aos pés de um milagre mestiço.

O mar tragou o mistério da travessia,

engolido pela mãe de ventre rasgado,

que chorou o mal estampado

nas velas estrangeiras

de tumbeiros amaldiçoados.

Nem fé levei, muito menos santo feito.

Foi destino curvo de mal encomendado.

Mas terra fendida,

pela água e sal atravessada,

é chão de pátria sem nome,

de santos de olhos cobertos

e liberdade no peito, engasgado.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 26/04/2021
Código do texto: T7242053
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