ESQUINA
Derramai sobre as vestes que tu vestes
assim, sem dizer
o calor virgem de um beijo.
Deixai mão cálida sobre a face
e sem disfarçar a graça
do atrito de duas peles que se olham,
verás a luz despencar dum abismo
a última lágrima aflita.
E ainda sob a mesma face
e mão cálida, que o ar da ventura
ruja e peque
enquanto as sombras se espalham
como um cobertor que acolhe o dia.
Que venha a chuva,
a mansidão e o grito!
Que todas as promessas
sejam cumpridas!
E que tudo, tudo
seja entregue nos braços da liberdade,
porque por mais que gema o gozo da carne
por um fio de prata e de sangue,
é a alma quem escreve o destino.
Por isso,
na próxima esquina
(cuidado)
há outro universo.