O MENDIGO

Ele vem descendo a rua

Sorrindo com boca nua,

Num andar que não tem pressa

Sobrevivendo ambulante,

Andrajoso e discrepante

Na miséria que não cessa

No olhar doce, o mistério,

Senhor de seu império

De uma riqueza aguda.

Traz na mão indigente

Um exemplar surpreendente

Do grande Pablo Neruda

Por quais caminhos andou

Que descaminho trilhou

Até chegar esse momento?

Uma coisa com certeza

Por si só, já é beleza,

Ele tem conhecimento!

Invejo aquele sorriso

Pois foi como um aviso

Que me abalou o coração

Ser feliz não tem receita

Só consegue quem aceita

A vida, com gratidão.

Foi-se embora o miserável

Deixando-me com admirável

Missão por realizar:

Cultivar a humildade

E se tiver capacidade

Conquistar o meu lugar.

Jamais esqueci o mendigo

Que sem saber foi um amigo

Cuja lição tento aprender,

Na sua simplicidade

Ensinou que na verdade

Ser feliz é só querer.