THEATRUM HERUM BRAZILIAN
E fez-se a festa porque a fé não descansa.
Um olho aberto outro fechado pro errado,
enquanto sobre a poeira segue a dança.
De boi voador a pernilongos de casacas,
de índios tenores a intermediários de Deus,
não sei de que barro foi feita toda a desgraça,
alimentada no traiçoeiro espírito semi-ateu.
Tambor que bate pra malandro arrependido,
veio sequestrado no mistério da travessia.
Encruzilhada marcada, enquanto corre a missa,
de moças antigas e poetas fracassados,
recolhe ebó em segredo, engolido com Ave Maria.
E nesse torto arabesco de vida sem rumo,
onde escorre o fel da servidão polida,
cruzo anjo caipira com goitacases enfurecidos,
comidos na lua nova, pra que não venha a praga,
vomitados como vedetes, vestidas em casca de banana.
É tudo lindo aos olhos vendados da lascívia,
quando qualquer orifício vivo se torna trincheira.
E eu pago ingresso, aplaudo, uivo e recomendo,
sobre esse espetáculo anônimo, obra prima da preguiça.