THEATRUM HERUM BRAZILIAN

E fez-se a festa porque a fé não descansa.

Um olho aberto outro fechado pro errado,

enquanto sobre a poeira segue a dança.

De boi voador a pernilongos de casacas,

de índios tenores a intermediários de Deus,

não sei de que barro foi feita toda a desgraça,

alimentada no traiçoeiro espírito semi-ateu.

Tambor que bate pra malandro arrependido,

veio sequestrado no mistério da travessia.

Encruzilhada marcada, enquanto corre a missa,

de moças antigas e poetas fracassados,

recolhe ebó em segredo, engolido com Ave Maria.

E nesse torto arabesco de vida sem rumo,

onde escorre o fel da servidão polida,

cruzo anjo caipira com goitacases enfurecidos,

comidos na lua nova, pra que não venha a praga,

vomitados como vedetes, vestidas em casca de banana.

É tudo lindo aos olhos vendados da lascívia,

quando qualquer orifício vivo se torna trincheira.

E eu pago ingresso, aplaudo, uivo e recomendo,

sobre esse espetáculo anônimo, obra prima da preguiça.

EDUARDO PAIXÃO
Enviado por EDUARDO PAIXÃO em 06/05/2021
Código do texto: T7249815
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