NO OUTRO CRIAMOS NÓS

O pensionato acordava de noite.

Havia alguém uivando pra lua

na rua escorrendo larvas pela

pele pelos lados da boca ferida

Rastejando até outro quarto

feito rato envenenado espumando

Ninguém poderia guardar sua dor.

Alguém pode guardar minha dor?

Eu quero um pouco da sua carência

Deixe a cair na minha camisa molhada

de esperas contínuas de velas acesas

durante toda noite em que dormira...

A fantasia do recanto escondido

do canto sem vozes sombrias

jazia agora de máscaras e penas

Num dia de marasmo vamos querer

aquela busca por favores aos mundanos

e suas poções de alívio no breu...

Vamos deitar ele sobre o manto

de nossa liturgia penosa e cantar

os versos do túnel que mostra a luz

Talvez quem sabe possamos dormir

e acordar sem pensar na noite

onde o "Cristo veio pedir água".