Vincent
27 de junho,
1890,
olhar-centopeia,
cavalete em pé,
persegue
um tom intransponível.
Frente ao tecido,
calafrios,
aspira planície,
trigo-aceso,
se deslumbra,
fronteiriço,
pincéis, paleta, temor.
Com coragem,
tremelicando,
dilapida,
muro invisível,
medos.
Uma questão goteja da orelha:
Sentir ou poder?
Resposta -
mão trêmula
escrava chumbo
no peito.
Pólvora seca,
revólver ocado,
estrondo no espaço.
O céu,
azul turquesa,
empapado,
destoa,
revoar negro,
corvos.
Devagar
desfalece.
Lábios ao pó sussurram -
é pesadelo ou arte?
Impressões
diante de si desintegradas.
O sangue,
pulso, transição,
dança em frenesi.
Morte
arrebatada
por feitiços solares.
Sem distrações,
desfalece, contudo
retorna inesquecível.
Esplendor,
tendões repuxados,
expressão,
dom,
fora deste mundo,
uivo que ecoa.
Desejo grandioso,
não fortuito,
infortúnios
de se atravessar
o tempo.
Daniel César - Natal, 18/05/2021.