# SINA DE VIOLEIRO DE RENATO TEIXEIRA

Meu pai chegou aqui num fim de dia

Há muito tempo em cima de um cavalo

E era pobre e moço e só queria

Semear de calo as mãos de plantador

Com minha mãe casou-se assim que pode

Acharam um rancho no jeito e na cor

Da terra boa e semeou o milho

E semeou os filhos, e semeou o amor.

E assim a vida foi-se como um rio

Meu pai dizia, um dia será mar

E toda noite reunia a prole

E tinha cantorias para se cantar

Não era fácil a lida mas valia

Porque um homem precisa lutar

Nem quando a morte nos levou Rosinha

A mais pequenininha deu pra fraquejar.

De sol a sol, o braço no trabalho

Foi como um laço mas nunca sonhou

Por isso Pedro, nosso irmão mais velho

Foi para a cidade e nunca mais voltou

Mariazinha se casou bem moça

E foi com Bento, homem trabalhador

Mas veio um tempo negro em sua vida

Ele garrou na pinga e nunca mais largou.

Uma cegueira triste certo dia

Nos olhos calmos do meu pai entrou

Varreu as cores do seu pensamento

Ele deitou na cama e nunca mais falou

A minha mãe mulher de raça forte

Pegou nas rédeas com as duas mãos

E eu me enterrei de alma na viola

Onde plantei tristezas e colhi canções.

Por isso mesmo amigo é que eu lhe digo

Não tem sentido em peito de cantor

Brotar o riso onde foi semeada

A consciência viva do que é a dor

Renato Teixeira
Enviado por Pacomolina em 22/05/2021
Reeditado em 22/05/2021
Código do texto: T7261334
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