PAS DE DEUX

Imagino-a toda descomposta no meu colo

— e sem ninguém para adiar aquele agora,

da corda fina dos seus braços nos arredores

do pescoço e a da sua cabeleira que embola

o ar rarefeito em volta dos pelos ansiosos

em meio ao floral úmido do seu território.

Você se vira e, hálito a hálito, transborda

em mim mil beijos, lambe a nuca e morde

os meus lábios, tão rápida e tão vagarosa,

neste ballet de ancas: sobe e desce e solda

uma alma noutra alma. Ossos sobre ossos.

O seu riso indecente é o que me transporta

ao pó do tempo que não se vê nos relógios.

E não há nada mais inútil do que as horas.