Ourivesaria
Queimo meu verso no fogo, feito ouro
E douro, douro, douro, douro mas sem derreter
Acrescento ainda mais um pouco, de tudo
Mas ainda é pouco
E continuo a dourar
Daí o verbo estoura, expande e quer se desdobrar
Conjuga-se consigo e com outros
Aglutina , precipita, então coalha, não dá pra parar
E ebulindo surjem outros verbos, e chocam-se
Querem ser, querem estar, vão daqui pra acolá
É uma dança, um valsar
Quando vejo, tem verbo na parede, no teto, no chão, em todo lugar
Então eu também danço, chacoalho, vou girando, vou virando verbo
Me visto de modo e de tempo, me transmuto em presente, futuro e pretérito
No tempo faço um furo e junto tudo, me faço etéreo
Subo aos céus, leve feito Hélio, e pairo com os astros eternos
Sou uma supernova espalhando gases coloridos
Inflo e brilho, superaqueço e esfrio, efêmero pulsar
Crio outras coisas, dobras de tempo , galáxias, palavras, formas de ser e de estar
Recrio mundos e destruo tudo o que me atravessar
Sou um buraco negro supermassivo, engulo e cuspo, lanço tudo em outro lugar
Fundo elementos no firmamento, findo por me fundir, também, com estrelas sem par
Sou fissão nuclear explodindo em versos, sou ruído de fundo cantando em estalidos
Sou átomos se dividindo, sem fim , sem errado e sem certo, sem enredo e sem rimar
Sou bardo sem verso e poeta de bar
Eu verso sobre as estrelas do mar e sobre o tempo eterno
Sobre o vulgar e sobre o exótico, sobre o barroco e gótico, sobre amar
Mas também sobre o ódio, o feio e o réprobo, pois a vida não é só se deleitar
Bom, o fogo está fenecendo e o poema tá nascendo, feio, torto, mas que brilha amarelo como o sol no fim do dia
Sol que doura o céu enquanto se banha no mar
Alquimista que é, o astro-rei, sabe como se transformar
E é a ele que meu verso ousa lisonjear
Estrela de fogo que brilha como o ouro reflete no meu verso o teu brilhar