LUZ

Tenho andado de braços dados com a luz.

Quando acordo, de manhã, ela está lá,

me esperando, sem relógio, sem hora,

fora do tempo em que medimos

nossa existência.

Não preciso perguntar se é uma maçã;

ela mostra o corpo da fruta, me diz a cor,

apresenta o fato através dos seus olhos.

Ela só não mostra o que sentimos,

nem penetra no lado escuro da alma;

só ilumina quando a deixamos entrar,

anunciando a presença da matéria.

Passou a existir como algo comum,

um fato corriqueiro, uma presença

nem notada, uma visita sem convite,

ela, que ama os pintores, seu pai, o sol,

sempre se veste com o brilho reluzente,

cobre a lua com seu xale amarelo.

Os que prescindem de sua presença

sabem de sua existência, a veneram,

sabem o significado da palavra clarão,

que ela existe, está sempre entre nós.