EUNIVERSO

Móveis deletérios

que se movem ao meu redor,

sou o centro do universo,

tenho que ser o melhor.

Rearranjo minha órbita

dos astros que estimo,

nada que ponha desalinho

à minha lua em câncer,

só o que brilha em meu céu!

Eclipses apenas são bonitos

quando acontecem de dia.

Crio a vida como posso,

não tenho milenares anos

até voltar ao pó: aconteço,

no curso do meu meteoro

concurso público e desejo

- tudo que mereço –

e a possibilidade de posse.

Só habito onde sou feliz,

onde nada haja que me atinja,

os planetas se vão num estalo,

estou sempre em expansão

vivifico meus objetivos:

um teto em minha cabeça,

uma motocicleta na garagem

e um bom vinho na geladeira.

Aonde os universos vão

depois disso?

O lugar onde vivem os vasos

em que morrem as plantas,

onde descansam as músicas

que nunca se tocam,

onde se decomporão os títulos...

Onde pararão meus beijos

quando saem dos lábios?

Meus para-beijos, para-raios,

minha flor de maio, onde estarão

nossos abraços, nosso pra sempre?

Fui nomeado no Diário Oficial,

tenho curriculum lattes,

uma sala com meu nome,

responsabilidades legais,

reuniões que me chamam de senhor,

vou ao psiquiatra semanalmente,

tomo remédios para dormir,

o que vive e morre em mim

só eu sei meu universo

ao redor: móveis deletérios!

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 01/06/2021
Código do texto: T7269287
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