PRESSÃO

Fiz vista grossa — acostumei com a corda bamba

e, conivente, fui perdendo o enjoo do seu balanço.

Nunca soube o meu lado: a decisão é a do amanhã

e duma íntima e viciosa extração lotérica cotidiana.

Chumbos de chuva aspergem a sua nuvem branca

sobre o outono da alameda — ora para ora avança,

dentro da agonia moída da hora que gira e espanta

esta paz escassa das minhas mil metades flutuantes.

Acuado entre as alvenarias da casa e as lembranças,

escoro o poema na fumaça que prendo na garganta.