OUTRAS CONFISSÕES
Sei que não existe de nenhum jeito que acredito,
mas mesmo assim, sem saber bem dos registros,
pergunto aos meus bolores: se o que está escrito
na pedraria, na voz rouca do pastor e no papiro
podem representar um ato meu de pura covardia,
de não me derreter na fé de ser homem de Cristo?
Não me alenta a palavra. E nem Santo Agostinho
com as suas culpas justificáveis e toda a ladainha.
Creio no céu e na terra — e em nada além disso.
Será que tudo se fez a partir do Bóson de Higgs?
Sei das minhas maldades e do meu baixo espírito
morto entre os teatros da rotina. Da anfetamina,
da nicotina alta e dos desassossegos das pílulas.
Estou cercado de frutos azuis da árvore da vida…
E comi todos e me vi nu e também sem descobrir
o porquê de não poder vir agora e de estar aqui...
Quem merece as suas verdades são os submissos
à sua fúria e ao seu exclusivo e oculto escrutínio?
Me diga ó senhor invisível — O que é ser infinito
e como consigo ser poupado do seu falso paraíso?