COMINICADO A QUEM

Um homem ressentido com a própria

insularidade

tem pena ou mágoa,

não sabe,

daqueles que

(predestinadamente, é a impressão)

desistem de conquistá-lo,

a ele,

a quem não resta sequer a dignidade de

castelo inexpugnável,

quando muito a presentidade de

enigma criptografado.

É triste:

aquele que ontem lhe falou com tanto calor,

hoje lhe acena adeus, um eco de afeto

se não mero reflexo

de constrangedora polidez.

Mas antes não seria sua reação fria -

não, sua distância sideral,

a luz de um seu olhar que

se vê mas se sente oriunda de um

astro rei há muito apagado,

a culpada?

Mas não pensa em culpa,

pouco cristão que é; pensa

em si, muito pós-moderno, pensa

em sua sina, pensa por palavras

nas próprias palavras - jamais

escreveria sina -, pouco lhe

importando as pessoas, pelas quais

não molharia os olhos,

já o disse em poesia (oras,

veja, mas choraria pela beleza

de versos bem a amarrados!)

a contradição o é:

quer a escuridão, o silêncio e o si mesmo;

sente a palavra alheia como a um estupro;

mas quando não tem essa emoção de morte,

faz-lhe falta a violação de seu código,

que só permite porque parcial, jamais

lhe desvenda os desvãos escuros.

Eis outra palavra, a verdade, que

não permite em seus textos (também é

descontrucionista, seus pensamentos

são textos); nem essência,

porque tudo são verdades e essências,

ou nada são verdades e essências,

e assim tudo (nada) sempre acaba

em pizza, disco cujo ciclo é entrar

por um lado, ser digerido, e sair

pelo outro, transformado.

Sabor alho & óleo,

humano oxímoro comestível,

não se dará ao outro ou

este terá outro gosto?

Pois somente no outro achará,

ele sabe, sua digestão; mas,

em pedaços repartido entre

o desejo de assimilação

e o desejo de dissociação,

fica no impasse e passa,

ora arrependido, ora

desiludido, para esse

eterno Aquém, reino

de desencontro, reino

de miragens no horizonte,

reino onde o toque não há

e a visão se dá, quando

muito, na armadura da

palavra escrita.