TEXTOS MINIMALISTAS DO ACADÊMICO AFONSO DE CASTRO GONÇALVES
 

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TROVAS
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A palavra é platibanda,
é plêiade, pliocásis.
Plange a palavra, desanda.
Palavra pra mim é oásis.  

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Sorte nasce de manhã
nas veredas: Alegria!
Sei, entrementes -- no afã, 
está velha ao meio dia. 

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Aos sem teto de direito
foi negado o comezinho.
Nesse mundo tão mal feito,
Deus, ó Deus, dê um jeitinho! 

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Quatro versos tem a trova,
sete sons com todo afeto.
A rima a-b-a-b prova
o sentido mais completo. 
 



 

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MICROCONTOS
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ESPELHO 
            Tinha uma cristaleira – guardava objetos e delicadezas. Delicadezas que um espelho tornava objetos. O espelho da cristaleira era no fundo. E, no fundo, tudo e mais me doía.
            Ajoelhado, o espelho via a mim, via minh’alma, a triste, perdida e comovida alma.
            Timunda, pano e rodo, limpava a sala:
            -- Menino, para de embaçar o vidro da cristaleira!
            -- Né vidro não. É o espelho, Timunda!
            -- Olhando demais o espelho quebra, viu?
            -- Ai!...
            Hoje sei, quebrou-se foi o encanto. Fico com o poeta: Eu guardo o espelho, / o espelho não me guarda.

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TALICOISA  
           
Talicoisa não era flor que se cheirasse. Inda menino já tinha aprontado. Aprontado e desapontado.
            A primeira proeza de Talicoisa, quando ainda era chamado de Tal, foi cuspir na cara da professora. Só porque ela mandou-o ficar calado. Daí para frente, ele foi colecionando, digo a dedo, desaforos dados e doídos, além de inimigos.
            Chegaram a falar que ele era prejudicado da cabeça, doido de pedra. Mas, não! Era o coisa só, o demo, o diangas – Talicoisa. E tudo ia conforme o (des)combinado, até que o não-sei-que-diga tramou contra o imundo. Ele atreveu-se a botar fogo no canavial de “Seu Amâncio”, e... era uma vez um caldo de cana.
            Depois, fustigado, saiu correndo mato adentro e deu de frente com o dono da Fazenda Saco da Vida, a campear um boi fugidio. Levou um tiro de cartucheira no “mei do oio”. Difícil crer que sobreviveu, né? Escapou foi por milagre – convenceram-se todos. Mas durou muito, não! Morreu, deveras, de apendicite, coisa arremeda. No seu túmulo, escrito tá:
            “Aqui (faz) jaz Talicoisa... e loisa”. 

 





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HAICAIS   
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A pá da (pa)lavra:
voz, vez do trabalhador.
Fausta faina – alvor!
 
Céus, tá tudo torto!
Por um triz o traste bate.
Que tatibitate!
 
Mágoa que goteja,
um sonho na noite incerta.
A torneira aberta.
 
Gerânio-mulher,
o segredo me revele.
É coisa de pele?
 
Qual fantasma ‘esgaio’,
a velha igreja ressurge.
Noite fria de maio.
 
Azar ou desgosto
porquê? Paira, vibra agosto
só na flor do ipê. 
 
Dezembro irradia
fruto farto do pequi:
maravilha em si. 
 
Vida: Poesia
bem quero tomar na veia.
E seguir a via. 
 




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PALÍNDROMO
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!AME O POEMA!
 
soa como caos            
a mira da rima
a diva da dívida da vida.
[me] livro da dor vil [em]
avivo o viva.
!ame o poema!
 
  
(*) Poema-palíndromo: Cada verso deve ser lido 2 (duas) vezes: No sentido normal e contrário. Quando lido em sentido contrário pode-se unir duas ou mais palavras. O leitor encontrará o mesmo significado poético.
 

Afonso de Castro Gonçalves.
Enviado por ABLAM em 20/07/2021
Reeditado em 05/08/2022
Código do texto: T7303749
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