DISSONANTE

Assombram-me todos os perdões que devo,

tanto aos que já se despediram num enterro,

como também aos que estão parados no cerco

dos breus que espocam dos meus pesadelos.

Assombram-me quando ultrapassam ligeiros

em flashes opacos de imagens de suas cabeças,

por dentro da hemoelétrica dos meus nervos...

E têm mil olhares de reprovação e de desprezo

— e nunca solicitaram os meus arrependimentos,

mas sim que eu sinta a mesma dor do momento,

onde o egocentrismo foi o maior e único fermento

dessa existência dedicada à mentira e ao pretexto.

— Assombram-me a dissonância da alma e o receio

da esperança que deu no pé de vez do meu viveiro.