PARALELAS

Há um verso ali na soleira

do espanto, no oco do vão,

no biombo solto entre a luz

quase constante da televisão

inútil e posta no outro quarto.

Há um verso ali na rodovia,

onde o sol apareceu escarlate

daquela hora de uma rotina

do sangue do céu e das pistas

que, por sobre a tarde, caíram;

e há um verso ali que predomina

no solavanco da vida. Há o cobre

estirado, mas também há o cinza

e a pena do roxo disfarçado de rocha

— um vinho furta-cor de rosa ainda.