Dália em desalento
Não era noite nem dia
Era mais uma madrugada fria
Solitária como a dália
Sussurrando sozinha
Num jardim de erva daninha
Usando tudo que ainda tinha
Para permanecer de pé
Muito cansaço, nenhuma fé
O desespero a violentando de todas as formas possíveis
Choro amordaçado preso em risos intangíveis
Lágrimas que ninguém via
Serpenteando vorazes pela face vazia
Dor que ninguém socorria
Pavor que ninguém entendia
Alento que nunca vinha
Grito que não saía
Deus, que não existia
Cada dia uma eterna agonia
Pra que raízes sem dias felizes?
Pra que tanto empenho pra cair de joelhos?
Pra que tanta força pra fugir da forca?
O mato cresce devorando a dália
Que vida é essa que também é mortalha?
Volta logo luz do dia!
Rasga o espaço e me alumia
Que a escuridão da noite só aumenta a minha.