A PROPÓSITO

Sempre carreguei, bem cínico, alguns ases

nas mangas. E nunca arriei todas as cartas

nos buracos da lida, porque falta a coragem

de pôr a fuça, sem nada, na frente da ribalta

cíclica da vida, onde seu refletor é implacável.

Por isso mesmo que sou um poeta de araque

— que colore os versos de sombras e de traços

e cria, entre esses atalhos, falsas profundidades

que querem parecer com algo que não é de fato:

moro na neblina dos pós leves das maquiagens.