NOITE

Apagadas as luzes,

da noite encantada de brilhos,

ficou apenas a noite,

trivial, comum, negra.

Nela, o lixo do dia conta histórias

em sacolas de plástico preto,

babando dejetos no chão das ruas.

Nela, os gatos vadios

miam vitórias de estranhos cios,

no largo do coreto.

Nela, as estrelas brilham,

ou não, indiferentes,

como em qualquer outro lugar.

Nas portas dos bares, prostitutas

pegam táxis em viagens finais,

sem retocarem a maquiagem.

A noite, finalmente, instala-se

por um breve momento, mágica,

sem adornos nem brilhos.

Eterniza-se na dúvida com que se mede.

É ela que sucede ao dia?

Ou é o dia que lhe sucede?

Novembro 2007