ALUMBRAMENTO (3)

SOU EU...

Eu sou o pecado

camuflado de inocência.

Eu sou o amor

revestido de luxúria.

Sou ilusão, injúria.

Sou eu, sim!

Fugindo do mundo-preconceito

da sociedade moralista.

Sim! Inatingível,

soberana,

intangível.

Sou eu, sim!

Rabiscando palavras verdadeiras e

rascunhando rasteiras

serpentes; eu sou a pecadora,

a estrangeira.

Sou eu, sim!

Poeta, carente,

perdida, sofrida.

"Blade-Runner", "Superman"...

Sou eu mesma,

dentro da cúpula do viver.

VINGANÇA

Lá vai o homem olhando a vitrine,

iludido comete o crime.

Quebra-se tão depressa

o vidro do desejo.

Rouba-se a peça

do incontrolável almejo.

Realiza-se, então,

a volúpia assassina.

O crime seria a ira,

da peça que se admiraria.

Foge pra longe

a ânsia desejante,

com a peça aspirante

do sofrimento constante.

Inicia-se o crime

do homem que, iludido, olhava a vitrine.

Inicia-se a vingança

do homem que havia perdido a esperança.

TEMPESTADE DE SONHOS

E nós, o que somos,

além de uma tempestade de sonhos?

E a vida, o que é,

além de um caminho com vários atalhos?

E o amor, o que é,

além de um refúgio de solidão?

E a morte, o que é,

além de um novo começo?

E nós, o que somos,

além de uma tempestade de sonhos?

Somos o que não somos.

Vivemos o que não vivemos.

Amamos o que não amamos.

Morremos e não morremos.

Atalhos, refúgios, re-começos...

O que queremos?

Tudo tem seu preço...

Vida e Morte, Amor e Ódio,

Alegria e Tristeza, sinônimos e antônimos.

Por isso sofremos!

E Deus, o que é,

além de uma história mal contada?

E a terra, o que é,

além de uma bola redonda de natureza quadrada?

E nós, o que somos,

além de uma tempestade de sonhos?

ELAINE BORGHI

primavera de 2005