Estranhos

Estranho é dormir em silêncio

Ou roubar planos de si mesmo

Estranho é inventar o que não tem sentido...

E caminhar errante em pés vermelhos e rubra boca...ç

olhar daltônico para um mundo tão efêmero e eterno...

estrenho sou eu ingênuo... você sentimental...

tudo em todos...

morrer no sol da terra...

Estranho é sentar-se à porta do mundo...

e não saber para que lado fica o paraíso dos atônitos...

São estranhas essas distâncias mínimas entre uma fala cega e uma visão muda...

esse desejo de querer o além...

de estar tão dentro e fora da tela gigante do cotidiano...

no fundo...no fundo...estranho é a supeficie da alma...

estar à margem da imagem...

sonhar acordado e dormir sem sono...

estranho é o ódio e o remorso...

o credo e a piedade...

estranho são os estranhos...

a esperança no mundo possível....

a segurança e o medo...

sair com a loucura pra tomar um cachaça barata...

estranho é a solidão... ou um milagre da imaginação...

tornar-se um humano obcecado por máquinas...

e não voltar a ser...quando tudo já se foi...

Estranho é ter um nome...um rosto...um escondeirijo para a morte...

e é muito estranho ser um viveiro de plantas...

e fingir esse estatuto de criança...

estranho é passar pela terra em vinte e quatro segundos por hectares de existência...

continuar entrevendo estranhezas nos invernos ao vento...

estranho é o álibi da palavra...

é não fazer do seu lugar sair um outro...

de tudo que vi o mais estranho...

é achar que os outros são estranhos...como se eles não fossem ...afinal...aqueles outros...

que perderam o sentimento de ser estranho sendo um dos nossos...

Rocha Gomes
Enviado por Rocha Gomes em 19/11/2005
Código do texto: T73600