Simultaneidade

Ao caminhar nesta rua percebo-me

E a certeza gritante arranca-me do ser;

Torno-me outro alguém, não além,

Mas em parte aquém disto tudo.

Coração palpitante, lágrimas de sangue,

Vermes e urubus comem a carne,

Não mais a mesma...

Sinto-me distante a tudo, novamente indiferente,

Mato-me matando e continuarei a matar,

Profanado o que chamaste de vida;

A existência é uma condenação ao degredo,

Que é sofrimento inatingível,

Palavras vãs, filosofias e saberes inúteis,

Inutilizo-me pois sou e só aí, então,

Mato a todos vocês

E continuarei matando, pois sou um assassino.

Nestes versos despejo-me com a consciência gritante do nada saber,

Percorro a rua até o fim inatingível,

O horizonte do saber e torno-me ele,

O caminho escuro e solitário que percorro, ébrio saber.

A existência é solidão, existir é saber que não há salvação,

Amar é negar-se, crer é não existir e eu sou apenas um homem.

Mato, enfio toda a faca no estômago,

Minha mão adentra, sinto as vísceras,

Minha mão já não é distinguível de uma parte sua,

Encharcada de sangue pergunto, quem está morrendo?

E assim torno-me a ser o que sempre fui,

Vida, uma só...

As palavras se vão, os discursos se vão,

Os sistemas desmoronam-se e eu amo,

Ah como eu amo, a vida.

Oaj Oluap
Enviado por Oaj Oluap em 13/10/2021
Código do texto: T7362405
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