O POETA E A PEDRA.
Tem uma pedra
no meu olhar,
é aguda, corta,
e me machuca.
Tento livrar-me dela,
sinto,não é fácil,
por ela faço
versos telúricos.
A pedra rola,
fere canais lacrimais,
instiga meus ais,
não me deixa existir.
Tento pisar,
pedregoso caminho,
dói os pés
tantos espinhos.
A pedra é miragem,
me deixe idealizar,
dar a ela todas as cores,
e ao mundo revelar.
A pedra me desdenha,
é fria lápide tumular,
é canal das tormentas,
pra meu coração passar.
A pedra me suga,
me traga, me evapora,
faz-me frágil estrutura,
vai me olhando ir embora.
A pedra me esnoba,
é bicho peçonhento,
deixa-me no couro as presas,
sangra a alma por dentro.
Quer que eu morra devagar,
sangrando nas noites densas,
para depois me soprar,
fingindo um amor intenso.
Mas brincar com o poeta
é andar em corda bamba,
pois no jogo do amor,
o poeta se encontra.
Se morrer de tal batalha,
o corpo não senti a dor,
se o poeta morrer hoje,
amanhã já ressuscitou.