Sextilhas para Inaiá

Na velha fotografia,

Dessas que vemos um dia,

Só foquei a rua amada,

E me veio à minha mente

Da minha terra só gente,

No meu coração guardada.

A conhecida saudade

Me visita sem alarde;

De repente, traz poesia

E vontade de dizer,

Em versos de enaltecer,

Quem a vida dividia...

O bairro tem as ladeiras,

E subi-las traz canseiras,

Mas essa que lembro agora,

Mãe e esposa dedicada,

Enfermeira devotada,

Servia a nós, sem demora.

Lembro bem o seu carinho,

Com todos nós, seus vizinhos,

Nos doando seu labor...

De vestido bem comprido,

Discreta, sem alarido,

Ia praticar o amor...

Em casa tornara os filhos

Sabedores dos bons trilhos;

Perdoavam sua ausência,

E por tanta devoção

Que veio da religião

Explicavam a paciência,

Paciência mais destreza,

No labor... Quanta grandeza!,

Que doutor de academia

A chamava pro seu lado,

Pra vencer o indesejado

De uma veia fugidia.

Eu sou da Fausto Machado,

Vivia ela quase ao lado,

Na rua Joaquim Queirós;

Lá em casa ela chegava,

E tanto nos ajudava,

Intuía a nossa voz...

Neste mundo de ambições,

De mentiras e traições,

É tão bom lembrar alguém,

Sem cobiça por dinheiro,

Dedicada por inteiro,

A apenas fazer o bem...

Era terna e moreninha

E mulher pequenininha.

De corpo, sim, tão pequena,

Mas de coração gigante,

De amor, cheio o bastante

E presença, a mais serena.

Se escrevo versos de loas,

Só escolho pessoas boas,

Esse é meu grande plano,

Qual minha homenageada,

Agora, sim, bem nomeada:

Inaiá Emerenciano.