eu vi, viu

a dor cresce e a nossa

atenção é o seu fermento

o corpo a estrangula

como uma criminosa num

beco sem saída, a dor grita,

afunda, chama-a pela gola

da camisa, mando-a embora.

chama-a de puta, cadela,

invasora de arado alheio.

abismado vagueio no abismo

misterioso, do vasto desconhecido

que me habita, alex, onde pôs

a colher de pau, sua carteira

de identidade, seu paletó de

festas, ninguém responde, salvo

meus dedos que crava na folha em

branco um andar sem rumo, as palavras

não são coisas da alma, tão pouco

a representar como deveria, então

junto-as, minha tristeza é o flamengo

perdendo, a criança do farol, as

vezes que não deu certo, o grito

silenciado, o cuspe sexo, a boca

sem garganta, então entro em nova

camada, agora sei que algo se destrona

dentro de mim, que tenho mais pedaços

que a coisa inteira e elas não falam

a mesma língua, disseram que meu rosto

era feio, disseram que eu era magricela,

mal criado, um bosta, essa doeu, mas

nada disso deveria ser problema porque

não saiu da minha boca, tentaram fazer

eu carregar a mala dos outros, a carga

que não pertencia, ao negar, me deram

um dedo, mas um sorriso, mas não me

engano fácil, apenas guardei o dedo

e essa ânsia de falar mais que a sobrevivência

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 02/11/2021
Código do texto: T7377288
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