Rota de fuga

Tudo o que era sólido vai virar o pó

E tudo que era branco vai empretecer

Foram anos de privação e fome

Nos negaram até o nome

Nós fizeram trabalhar do amanhecer até ao alvorecer

Não teve sol capaz de me aquecer nos dias de frio

Frio e febre e saudade e ainda mais fome

De falar minha língua usando minha tongue

De ver florescer minha platation

Ouvir cantar nossas estórias, fazer soar os nossos sons

Chegou a hora de fugir, escapar disso daqui

Vou logo ali, refazer meu tom, tonalizar minha pele

Não tem quem me pegue, quem me impeça de chegar

E quando eu estiver lá, vou plantar, regar, colher, juntar tudo num alguidar

De tudo que era escasso vou arrancar o maior naco, vou fazer render , vou fazer florescer onde se só via chão

Vou fazer chover no meu pomar, encher meu celeiro, refazer o meu lagar

E eles vão olhar e dizer “que beleza de plantação”

Vão usar até de adivinhação pra tentar roubar meu quinhão, vão tentar me expropriar

Ah, mas não vão conseguir não

Bom, já tempo de dar às costas pra privação, de juntar com meus irmãos

Dá licença, vou me embora, que é chegada a nossa hora

E vai ser agora que vamos nos fartar de bananada

Vou me lavar debaixo d’água água doce

Vou me alimentar minha alma, vou sorver o gosto dos lábios mais doces

Da água de coco e do inhame

De dendê e vatapá

De quiabo e cerveja preta

E também do milho branco e da água do mar

Serão anos de fatura e gozo

E não vai ter quizila que vai me parar

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 07/11/2021
Código do texto: T7380778
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